Crianças

Na infância até à adolescência (especialmente na puberdade que pode ser definida como o momento em que ganhamos a capacidade de nos reproduzirmos), a sexualidade é vista como uma descoberta, principalmente do próprio corpo. 

Ao longo desta fase, muitas variações vão a ocorrer, mas a sexualidade é vivida e desenvolve-se sobretudo na relação com as sensações corporais que vamos a ter e em estreita interação com as figuras de vinculação, que se encontram quase sempre no seio familiar e das quais dependemos (principalmente e na maioria das vezes, a mãe).

Podemos dividir esta fase (antes da puberdade) em dois grandes momentos, um primeiro, que vai desde o nascimento até aos 2/3 anos e um segundo até à puberdade.

No primeiro momento, os principais agentes que exercem influência na criança são a família, em particular a mãe. Trata-se de um momento onde se formam as bases para o desenvolvimento da identidade sexual de cada criança.

A primeira fonte de prazer está localizada na região oral e em particular no ato da amamentação. Com o progressivo desenvolvimento do sistema nervoso, a criança lança-se à descoberta dos prazeres que o corpo lhe proporciona. Estas atividades exploratórias da criança, por passarem despercebidas à generalidade dos adultos como manifestações da sexualidade (pois não se trata de uma sexualidade genitalizada), não são normalmente reprimidas nas crianças. Estas primeiras atividades exploratórias e de prazer da criança acontecem normalmente ao acaso, ou seja, não há uma procura consciente desse prazer por parte da criança.

Esta situação muda quando a criança começa a observar e conhecer melhor os seus órgãos genitais (geralmente com a fase da retirada das fraldas), havendo aqui uma maior repressão por parte dos adultos em relação a estas atividades exploratórias.

Esta repressão acompanha muitas vezes a fase do controlo dos esfíncteres (urina e fezes), com a expressão muitas vezes comum do desagrado e até desamor com que os adultos reagem às “transgressões” e falhanços da criança a este respeito.

Quando termina a fase do controlo dos esfíncteres por parte da criança, por volta dos 3/4 anos, ela tem habitualmente concluído o processo de conhecimento do seu próprio corpo. Desde esta fase até à adolescência, dá-se a chamada socialização sexual da criança, através do contacto com os outros, com particular curiosidade pelo corpo do pai e da mãe. É também esta a fase mais intensa das perguntas sobre o sexo e a reprodução.

Até aos 2/3 anos, a generalidade das crianças adquire também consciência da sua identidade sexual, ou seja, reconhecem-se e identificam-se como rapazes ou raparigas.

Simultaneamente, iniciam um processo de aprendizagem e interiorização das funções que a sociedade considera próprias do rapaz ou da rapariga, e que estão associadas aos papéis de género.

Os principais modelos de identificação ou imitação social surgem nesta fase, assim como os problemas relativos ao ciúme, principalmente em relação às figuras de vinculação.

No momento do desenvolvimento que integra a segunda e terceira infâncias, respetivamente e aproximadamente dos 3 aos 6 anos e dos 6 aos 10/11 anos, os principais agentes influenciadores são ainda a família e posteriormente o grupo de amigos, com uma influência crescente da comunicação social e da internet.

Nesta fase, há uma consolidação da identidade sexual, ou seja, a criança aprende a identificar-se com um dos géneros.

As crianças aprendem palavras de natureza sexual. Contudo, muitas vezes elas desconhecem verdadeiramente o seu sentido.

Existe um sem número de brincadeiras exploratórias (jogos sexuais) em que as crianças se envolvem (ex. brincar aos médicos) e que são de grande importância para o desenvolvimento da criança, como facilitadores do conhecimento do meio, do desenvolvimento intelectual e ainda redutores de conflitos e ansiedades.

As crianças aprendem quais as atividades ligadas ao sexo e à reprodução mas ainda não conseguem designar especificamente a forma como as coisas acontecem.

Os papéis sexuais são fortemente reforçados por parte da escola e dos meios de comunicação social, quer através da publicidade ou dos programas de TV e internet que lhes transmitem quais são os papéis relacionados com o sexo e com a família, embora com uma tendência crescente e muito evidente para a diluição da bipolaridade em torno destes papéis.

Em suma, as principais características da sexualidade nas crianças são:

  • Os órgãos genitais estão ainda pouco desenvolvidos.
  • Os caracteres sexuais iniciam o seu desenvolvimento de forma gradual. Aqui há que distinguir os caracteres sexuais primários (os órgãos genitais ou reprodutores) e os caracteres sexuais secundários (as diferenças na forma do corpo entre homem e mulher, no tom de voz, os pelos faciais, o crescimento dos seios, o alargamento da bacia e dos ombros, a acne, etc.). Estes, pese embora designados de “secundários”, têm um impacto muito maior na forma como cada um encara e assume o seu desenvolvimento do que propriamente os órgãos genitais (caracteres sexuais primários).
  • A quantidade de hormonas sexuais em circulação no sangue é ainda muito pouco expressiva.
  • Os estímulos do tato sobre o próprio corpo são os que têm maior poder de proporcionar respostas fisiológicas sexuais.
  • A sexualidade está muito moldada pelos afetos.
  • Dá-se uma forte interiorização da moral relacionada com as questões sexuais.

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